Por Júlio Lázaro Torma*
Um corrupto, após passar meses de cama doente, acaba falecendo e logo vai ao juízo final, enquanto espirava via passar pela sua mente toda a sua vida, a sua concepção, os meses em que ficou no aconchego da barriga de sua mãe, nascimento, os primeiros passos, infância, juventude, amadurecimento, velhice e morte.
Lembrou dos momentos de incertezas, felizes, tristezas e de como conseguiu a construir um império.
Chega na sala e encontra um senhor idoso, de cabelos e barba branca, com uma chave e todo sorridente, acompanhado por um anjo, com uma lança, que lhe conduzem até uma cadeira e pedem para que se apresente e contar a sua história de vida.
Ele fala o seu nome, idade e começa a se lembrar de sua história e de como construiu um império de barro.
" Eu iniciei a trabalhar de caixa num bazar, o dono do bazar tinha toda a confiança em mim, eu era o caixa, fazia o trabalho de banco. No fim do expediente eu pegava algumas notas do caixa, pegava algumas mercadorias e vendia por fora, o dinheiro do banco pegava um pouco e falava para o patrão que paguei, com juros, correção monetária as contas que mandava pagar no banco.
Ia na casa dos devedores e cobrava o dobro, com a desculpa de que a inflação aumentava os juros, a metade era minha e a outra era do dono do bazar.
Comprei uma lambreta verde e como o patrão, já estava desconfiado pedi demissão e com o dinheiro guardado no banco e com o seguro desemprego, resolvi montar um negócio próprio.
Como trabalhei de pedreiro, carpinteiro, resolvi trabalhar por conta própria e tive que contratar empregados, a lambreta troquei por uma Brasília amarela, mas logo comecei a trabalhar para gente rica e vi uma forma e oportunidade de ficar rico como eles, pois como disse o outro o " mundo é dos espertos e não dos trouxas".
Comprei casas e comecei alugá-las, terrenos e depois comecei a vender, fiz amizade com políticos e funcionários públicos de alto gabarito.
ELES COMEÇARAM A ME AJUDAR, FAZENDO COM QUE EU GANHA-SE AS LICITAÇÕES PÚBLICAS PARA CONSTRUIR ESCOLAS, CRECHES E POSTOS DE SAÚDE.
Se na obra era preciso 15 sacos de cimento eu pedia trinta sacos, três caçambas de areia, pedia seis, se o valor da obra era Y eu lhes pedia X, e assim fiquei rico e construí um império.
Para pagar políticos, funcionários público, advogados para liberarem as plantas das obras e financiava campanhas eleitorais, tinha um candidato ruim de voto, todas as eleições pedia apoio e dinheiro para a sua candidatura, pagava pois sabia que não ia jamais ganhar uma vaga, até que desistiu da idéia.
Morei numa casa confortáveis, com piscina, três carros na garagem, tinha amante, onde eu a bancava, ela tinha um apartamento do bom e do melhor da city.
Meus filhos tinham uma obediência cega, um começou a se drogar e acabou falecendo, outro se separou da esposa por minha causa e depois me abandonou, amigos de verdade nunca os tive, só o amor pelo meu dinheiro, os bajuladores na volta, adoeci e eles me abandonaram".
O velho de barba branca após escutar com atenção, o relato lhe pergunta:
-" Eras FELIZ COM O QUE TINHAS?, Lhe responde:
-" Não Senhor, agora que morri, lhe respondo que na verdade eu nunca tinha nada, nunca fui feliz, mesmo tendo tudo".
* Membro da Pastoral Operária do Rio Grande do Sul
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