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segunda-feira, 12 de março de 2012

Acusado de corrupção, Ricardo Teixeira renuncia à presidência da CBF

O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, renunciou definitivamente ao cargo que ocupava desde 1989, e também deixou a Presidência no Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, informou a CBF nesta segunda-feira.

Na última quinta-feira, o dirigente tinha pedido licença médica. A renúncia definitiva de Teixeira foi anunciada nesta segunda-feira à tarde pelo presidente em exercício da CBF, José Maria Marin, numa coletiva de imprensa organizada na sede da entidade, no Rio de Janeiro.

"Hoje deixo definitivamente a Presidência da CBF", disse Teixeira numa carta lida por Marin.

A renúncia do dirigente já estava sendo esperada há algumas semanas, devido a acusações de corrupção.

Teixeira, que sempre defendeu sua inocência, foi acusado de ter recebido propinas da empresa de marketing ISL no fim dos anos 1990 e, mais recentemente, teve seu nome associado a um caso de superfaturamento do amistoso entre Brasil e Portugal, em 2008.

Entre 2000 e 2001, Teixeira também foi investigado por enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal envolvendo os negócios da CBF com a Nike, patrocinadora da seleção brasileira.

Essas acusações acabaram com seu sonho de chegar à Presidência da Fifa, no lugar do suíço Joseph Blatter, com quem manteve relações tensas nos últimos anos.

Na sua carta, ele lembrou os títulos conquistados pela seleção brasileira desde que assumiu o cargo em 1989 (as Copa do Mundo de 1994 e 2002, três Copas das Confederações e cinco Copas Américas) e considera "injustas" as acusações feitas contra ele.

"Presidir paixões não é uma tarefa fácil. Futebol em nosso país é associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando ganhamos, exaltam o talento; quando perdemos, a desorganização", escreveu.

"Fiz o que estava ao meu alcance. Renunciei à saúde. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias", completou.

Durante seu mandato, o ex-dirigente obteve da Fifa a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 e firmou contratos de patrocínio milionários para a seleção.

No dia 29 de fevereiro, Teixeira reuniu a assembleia geral da CBF e, apesar das críticas, recebeu o apoio unânime das 27 federações para continuar seu mandado até 2015.

José Maria Marin, de 79 anos, ex-governador de São Paulo, substitui Teixeira à frente da CBF e do conselho de administração do COL, também composto pelos ex-craques Ronaldo e Bebeto.

Marin já se envolveu numa polêmica no último mês de janeiro, quando foi flagarado por câmeras de televisão escondendo no seu bolso uma medalha destinada a jovens jogadores do Corinthians durante a premiação da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

A Federação Paulista de Futebol (FPF) chegou a explicar que o prêmio era mesmo destinado a Marin, mas um dos goleiros do Corinthians ficou sem sua medalha, que só foi enviada depois da premiação pela entidade.

A gestão de Ricardo Teixeira na CBF é marcada por denúncias graves e capítulos mal explicados. Contudo, ele nunca pareceu fraquejar em 22 anos e foi visto como um dos homens mais influentes e poderosos do Brasil.

Em julho do ano passado, por exemplo, em entrevista a Revista Piauí, Teixeira se mostrou pouco incomodado com pressões externas, da sociedade e parte da imprensa, e denúncias de corrupção. “Caguei de montão”, afirmou, sobre o assunto, na época.

Relembre alguns casos polêmicos que envolveram o nome de Ricardo Teixeira e CBF:
 
Vôo da Muamba - A Seleção Brasileira campeã do mundo em 1994 desembarcou em Brasília em vôo fretado, no mês de julho daquele ano. Ricardo Teixeira se empenhou para que nenhuma bagagem do avião fosse inspecionada pela Receita Federal e conseguiu. Entre as “muambas”, estavam equipamentos comprados para a choperia El Turf, no Jockey Clube do Rio de Janeiro, de propriedade de Ricardo Teixeira. Em 2010, após ação civil do Ministério Público, ele foi condenado em Primeira Instância.

Bancada da bola - Desde os anos 90, a CBF é acusada de patrocinar campanhas políticas de deputados e senadores em troca de favorecimento quando estes são eleitos. Desta forma, Ricardo Teixeira conseguiria em troca a sua manutenção na presidência da entidade sem grande pressão política e investigações sobre corrupção da sua gestão.

Duas CPIs - Ricardo Teixeira teve que prestar esclarecimentos na CPI do Futebol e da Nike. Ele foi acusado por lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, apropriação indébita e evasão de divisas.

Nova CPI - Em março de 2011, o deputado federal Anthony Garotinho tentou abrir uma nova CPI para investigar irregularidade na gestão de Ricardo Teixeira na CBF. Ele chegou perto de recolher as 171 assinaturas de parlamentares necessárias para a abertura da CPI. Garotinho afirmou que conseguiu o apoio de 117 deputados. Mas 13 teriam desistido após pressão de Teixeira. O deputado divulgou então a assinatura de 104 que mantiveram a assinatura. A CPI pretendia investigar, dentre outras coisas, irregularidade no Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014.

ISL - Em audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, em outubro de 2011, o repórter da rede britânica BBC, Andrew Jennings, acusou o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, e o ex-presidente da Fifa João Havelange, de receberam propinas para assinaturas de contrato da entidade máxima do futebol mundial com a ISL, uma das maiores agências de marketing esportivo do mundo. Segundo o jornalista, ambos confessaram à Justiça suíça o recebimento e fizeram um acordo para devolver parte do dinheiro e pagar uma multa que foi destinada a uma instituição de caridade. Ricardo Teixeira teria recebido US$ 9,5 milhões em propinas por meio de uma empresa de fachada de Lichenstein, chamada Sanud. Jennings chegou ao valor por meio de um cruzamento de dados da CPI do Futebol de 2001 que teria mostrado o cartola recebendo dinheiro desta empresa e de uma lista atribuída à ISL, na qual haveria repasse de propina para a mesma Sanud.

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